75. Patrícia, a que queria uma visita do Gugu

patricia

Não sou bem o tipo de pessoa que vê graça em aniversários, principalmente quando quem fica mais velha sou eu. Não, não tenho problema em envelhecer, mas é que aniversário é um dia em que todo mundo te abraça, te enche de elogios e só te deseja coisas boas – e toda essa atenção me deixa sem graça. Deve ser por isso que nunca comemoro o 17 de setembro. E deve ser por isso que passei o meu último aniversário em casa, dormindo. Mas com o Mateus, um amigo que (graças a Deus!) conheci na empresa onde trabalho, é diferente. Ele conta os dias para que a data especial chegue e comemora de todas as maneiras possíveis. Ver a felicidade do Mateus com aniversário me faz até ficar animadinha. Animadinha no nível ir celebrar a data num lugar cheio de gordices boas, tipo o Outback.

Eu, o Mateus e umas amigas conhecemos a Patrícia numa ida ao Outback para comemorar os 22 anos dele. Magra, de cabelo liso e preso e de rosto bem bonito, a Patrícia poderia até ser modelo. Estava na idade perfeita para isso, aliás. Mas ela estava ali, servindo mesas no restaurante, e parecendo odiar o que fazia. Não demorou muito até ela deixar a insatisfação evidente:

“Eu nem tenho Facebook porque meus amigos não me convidam para nada legal. E quando convidam, eu não posso ir. Eu vivo aqui, né? Dia e noite aqui. Já tem até um colchãozinho meu ali atrás”, ela resmungou, sem parecer estar brincando, depois que o Mateus fez algum comentário sobre a rede social.

A Patrícia morava longe da zona sul, onde estávamos, mas também não estava satisfeita com o local em que vivia:

“Moro na Penha, mas nem parece Penha a minha rua. Parece Guaianazes. Tem um matagal enorme na minha rua. Minha mãe já até mandou carta para a prefeitura para ver se o problema é resolvido”, ela disse, em determinado momento.

Eu também não vim de um lugar muito diferente da Penha, ou de Guainazes, ou de São Miguel, por exemplo. Sempre morei em São Mateus, na zona leste, e só me mudei para mais perto da cidade há dois anos, quando as melhores condições de trabalho ($$) permitiram. Nunca falei de São Mateus com a raiva que a Patrícia falou da “Penha que mais parecia Guaianazes”. Fiquei sem graça e resolvi quebrar o gelo:

– “Ah, talvez ao invés de mandar uma carta para a prefeitura, seja melhor mandar para o Gugu ou para o Luciano Huck. Para dar um tapa na casa e tal”, eu disse.

Foi o único momento desde que tinha conhecido a Patrícia que ela sorriu. Mas foi bem rápido.

“Seria uma boa ir no Gugu, para fazer uma transformação assim no nosso visual”, ela disse, ignorando o que falei sobre ajeitar a casa dela. “Nossa, sério! Minha mãe e meu irmão parecem mais acabados que eu. Dou dinheiro para a minha mãe tirar a sobrancelha, mas ela não tira de jeito nenhum”, completou, voltando a ser negativa e rabugenta.

O silêncio reinou na nossa mesa. Era então hora de cantar parabéns? Foi o que fizemos. Como a tradição do Outback manda, garçons vieram à mesa com colheres e um petit gateau lindo e cantaram o “parabéns” animado para o Mateus. A Patrícia era a única que bateu as colheres como se desejasse a nossa morte. “Vai, seu cuzão!”, parecia pensar. Pagamos a conta e fomos embora chateados com a moça. Tão jovem e tão infeliz.

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