Conversar com Daniel Muniz, de 33 anos, é — no mínimo — uma aula de como aproveitar boas oportunidades. Com sotaque gostoso e motivação exalando pela voz, o carioca parece ter décadas de experiência quando o assunto é criar, planejar e desenvolver novas ideias. E talvez seja mesmo esse o seu diferencial: o jovem empresário, criador da DCanM, uma empresa de soluções para a internet com ênfase em mobile, sabe a que veio há muito tempo, desde o começo dos anos 90, quando ainda morava com os pais num condomínio de dois edifícios na cidade do Rio.
“Comecei aos 12 anos vendendo geladinho para os amigos do meu prédio”, conta. O negócio deu tão certo que, com o lucro, o “espertinho” Dani correu para o shopping para comprar um videogame. Objetivo alcançado? Não. Em seguida, o garoto também começou a alugar o novo brinquedo para que as outras crianças se divertissem.
Foi aí que caiu a ficha. Foi aí que nasceu uma mente fissurada em empreender.
Aos 15 anos, no auge da adolescência, lá estava Daniel, agora ajudando a mãe a tocar uma loja de bijuterias. Apesar de se identificar com o que fazia, ele não se sentia muito à vontade na pele do único garoto em um ambiente repleto de mulheres endoidecidas por acessórios. “Eu era mais novo e achava meio estranho ser um rapaz vendendo bijus”, ri ao relembrar da época em que cursava o ensino médio e trabalhava com Dona Ana.
Três anos se passaram e Daniel, um apaixonado também pela rotina de esportes que o Rio de Janeiro proporcionava (ele ainda é maluco por corrida e natação) viu-se em meio a despedidas. Ele estava embarcando para a Pensilvânia, nos EUA, para cursar a tradicional Edinboro University, onde de formou a atriz Sharon Stone, por exemplo. Em 2004, terminada a faculdade de Administração de Empresas com especialização em Economia, ele abriu a sua primeira empresa que, a princípio, fazia turismo universitário.
“Com dois sócios, criei uma empresa que hoje já levantou mais de 15 milhões de dólares em bolsas de estudo para brasileiros nos EUA. No começo, o que eu fazia era basicamente trazer o time de futebol de Washington para passar 15 dias no Brasil, fazendo pré-temporada. Eu levava os garotos para jogar no Morumbi, enfrentar o time juvenil do São Paulo e apresentava o país para eles”, diz, referindo-se ao Jogada Nota 10, projeto que, atualmente, visa proporcionar oportunidades para estudantes-atletas brasileiros de continuar tendo um estudo de alto nível ao mesmo tempo que pratica um esporte.
A operação de Daniel foi vendida aos sócios, Ricardo Silveira e Ricardo Villar, no ano seguinte, e ele começava então a dar um boost em seu atual estilo de empreender: levantar dinheiro para novos negócios através da venda de antigos negócios. “Tudo o que eu fiz até hoje foi dessa maneira. Eu montava coisas e depois vendia para ter dinheiro para investir em outras ideias”, afirma.
Buscando novas especializações, Daniel se mudou, em 2005, para Londres, onde cursou um mestrado em Empreendedorismo. Pouco tempo depois, apesar de nunca ter tido a carteira assinada em nenhuma empresa — nem no Brasil, nem nos EUA —, assumiria o cargo de diretor de novos negócios de uma gigante de análise de mercado, a Business Monitor International. “Nunca tive a carteira assinada”, diz, orgulhoso. “Mas eu ganhava bem nessa empresa, então consegui guardar para os projetos futuros”, diz.
Alguns meses antes de voltar ao país, em 2009, viveu uma das experiências mais importantes de sua vida: passou dois meses no Nepal meditando e fazendo aula de pintura Thangka, uma arte budista que utiliza tintas a base de pigmentos orgânicos em tecido de algodão. Foi uma experiência liberatora e inesquecível e fez com que Daniel voltasse ao Brasil renovado. E ele chegou mesmo com tudo: investiu em um restaurante no Rio, mas logo vendeu sua parte, já que não obteve satisfação pessoal. “O maior patrimônio que nós temos é o tempo. Ninguém quer investir tempo em algo que não faça essa pessoa feliz”
Daniel mudou-se para São Paulo e teve a ideia de lançar um dos projetos que mais o inspirou até hoje, e também o que mais o decepcionou. Ele montou, sozinho, uma indústria de chá gelado chamada VenT. “Esse era o que eu chamava de ‘Meu projeto Natura’: eu pensava em fazer o bem e viver do meu sonho e, em 20 anos, esse sonho compensaria financeiramente. Mas eu errei tudo”, admite. Daniel diz que faltou experiência e pesquisa. O empreendedor não levantou dinheiro de investidores e tentou terceirizar a área de produção, que era a coisa mais difícil. Hoje em dia, ainda chateado, ele conta que tentou se envolver em um mercado onde não tinha nenhum conhecimento técnico e que, por isso, se deu mal.
A má experiência fez Daniel perceber que o que precisava mesmo era estar preparado para os momentos difíceis. “O empreendedor é testado o tempo inteiro. Sua capacidade de liderar, de fazer acontecer, sua dedicação, sua paixão… Empreender é uma montanha russa, com altos e baixos, vitórias e erros. Se o objetivo for somente retorno financeiro, em algum momento de adversidade você vai desistir! Tem que amar o que faz”.
Com o episódio do VenT, Daniel caiu na real: não queria mais investir em negócios tradicionais. Resolveu entrar para o mercado digital e, em 2011, deu vida a DCanM (Design, Concept and Business Architecture + Mobile). A empresa já criou e desenvolveu projetos para, entre outros clientes, a Volkswagen, a Nivea e o Jornal O Globo, e hoje tem três soluções de sucesso como seus carros-chefe: os cases VaiMoto, PrintPic e TilTheRace.
O VaiMoto é um aplicativo de logística urbana que reúne mais de 3 000 motoboys (e alguns ciclistas) e 8 500 clientes em seu banco de dados realizando entregas diárias por toda São Paulo, “com segurança e agilidade”. Como investimento, foram aplicados no negócio mais de 2 milhões de reais. O PrintPic é um aplicativo de impressão de fotos, enquanto o TilTheRace é uma solução que faz uma espécie de contagem regressiva individual para as principais provas de corrida do rua do mundo. “Esse último tem muito a ver com a minha paixão por triathlon e por corrida. Estou indo para o meu terceiro IronMan”, afirma, sobre a famosa competição de longa distância da modalidade.
Os planos de Daniel como empreendedor para os próximos anos já estão traçados. “Em 5 anos, quero estar empreendendo, envolvido com novas tecnologias, novas lideranças e novos talentos. Em 10, quero me dedicar mais ao desenvolvimento de novos empreendedores. No longo prazo, pretendo colaborar mais com novos talentos que lideram novos projetos, do que necessariamente estar liderando um ou mais empreendimentos”, diz, confiante.
Já na vida pessoal, Daniel só quer continuar sendo um bom pai. Ele é casado e tem uma filha, a Duda, de 4 aninhos. Se ele quer que a garotinha siga os ensinamentos dele? Claro. “Ela já prepara biscoitos e gelatina para vender e junta dinheiro para comprar seus objetos de desejo. Também já participou de três corridas, o que me deixa muito feliz”, diz ele. O ensinamento está sendo repassado. Nesse ritmo, em breve faremos um perfil da pequena Dudinha Muniz por aqui.
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