Entediada, saí do cabeleireiro na Joaquim Eugênio de Lima com apenas um objetivo: me distrair nas 5 horas seguintes. Eu sabia que esperar minha mãe pintar, cortar, alisar e retocar seus milhares de fios de cabelos poderia ser uma missão meio torturante pra mim. Por isso, dei um tchauzinho sutil e disse que a encontraria mais tarde, ali mesmo.
Eu, que quase sempre tenho companhia nas minhas andanças, me sinto meio diferente quando estou por aí sozinha. Apesar de amar caminhar conversando com alguém, me fico inexplicavelmente liberta quando não preciso pensar em nada, a não ser no “não pisar no côco do cachorro”. Isso é loucura? Espero que não.
Só sei que andei pra cá, andei pra lá, andei mais um pouco, peguei metrô, enrolei bastante e a hora não passava. Resolvi ir ao shopping, que estava vazio porque, afinal, eram só 10h10 da manhã. “Quem é a desesperada por compras que coloca o pé no shopping assim que as lojas abrem?”, fiquei me questionando enquanto atravessava a Rua 13 de Maio e embocava no prédio do Shopping Paulista. Tentei, de todas as formas, não me incomodar com o pensamento. Eu sou paranóica e aquela devia ser só mais uma das minhas encanações idiotas.
Já na escada rolante, sabia bem o que queria: uma boa promoção. Entrei na Zara porque – de verdade – não sou nenhuma revolucionária idiota que desistiu da marca por causa da história dos escravos (desculpa por falar assim, tá, gente?). Entre rendas, cabides, jeans e looks ideias para meu Ano Novo em Floripa, ouvi uma voz mais cansada.
– “Ei, mocinha!”, disse uma senhorinha. Olhei na hora porque sabia que era comigo. “Vem cá”, ela continuou. “Você não quer me ajudar a escolher um presente pra minha amiga?”, perguntou.
Fico confusa nessas situações em que tenho que pensar numa resposta educada para “Você não tem outra pessoa que possa te ajudar? Eu não estou com vontade não”, mas sempre acabo sendo uma fofa. Não foi diferente ali, com a vovózinha.
– “Tenho uma amiga que é assim, igual você. Ela é jovem, assim igual você, sabe? Ela é fisioterapeuta, sabe?”, perguntou, sem a real intenção de perguntar e sim de informar.
– “Ah, que legal”, eu disse, ainda um pouco sem graça. “Quantos anos ela tem?”, perguntei.
– “Tem 47 anos! Ela é bem jovem”, disse a senhorinha, que apelidei na hora de, óbvio, Dona Maria.
Nos, sei lá, 30 segundos seguintes, alguns pensamentos meio exagerados invadiram minha cabeça: “Puta que pariu, sua velhinha bizarra, você tá louca? Jovem sou eu, não essa sua amiga aí. Acho que você nao tem noção. Sério, por que você não vai arranjar outra pessoa pra te ajudar?”. É claro que não falei nenhuma dessas grosserias. Ao invés disso, tentei ajudar…
– “Olha, essas de rendinhas são bem fofas. Eu acho que ela vai gostar. Eu gosto! Quanto a senhora quer gastar?”, perguntei.
Os olhinhos da vovózinha brilharam e ela soltou um “É isso mesmo! Essa é linda!” contagiante. Depois, ela olhou na etiqueta, viu o R$ 119 pendurado e reclamou da “facada no peito”. Fez isso com as outras 4 ou 5 peças que mostrei. Daí fiquei meio irritada, fui disfarçando, fingindo que estava procurando um presente pra amiga dela… E me afastando na loja… Me afastando mais… E PAAAN: lá estava eu, na escada rolante de novo.
Até agora não sei se a vovó achou o presente que ela queria dar para a amiga fisioterapeuta dela…
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Trilha perfeita para acompanhar esse texto:
http://youtu.be/jsL2Alwoego
Sempre que eu ando sozinha também fico nessa paranoica de não pisar no cocô do cachorro e eu pensando que era só eu! No inicio fiquei com dó da vovozinha, mas depois entendi a situação, acho que ela estava meio perdida e se perdeu mais entrando na Zara, onde nem tudo é tão barato o quanto ela procurava! Adorei a estrategia de disfarçar e ‘fugir’ da loja hahaha, boa.
Beijos e vou acompanhar muito por aqui, estou apaixonada pela ideia do seu blog de citar pessoas assim com o seu dia-a-dia normal.
Amanda, http://amdcianci.blogspot.com/
BAHAHAHA que velha hilária! Apenas apaixonada pelo sei jeito de escrever!
Parabéns viu, seu blog é perfeito, tenho 15 anos anos agora e tudo o que eu quero na vida é ser assim como você, viajar pra algum lugar com uma cultura diferente,fazer intercambio, ser ótima com as palavras e tudo mais. Participar daquelas festas de filmes americanos…enfim. Você é foda.
Ps: Desculpe se pensou, que sou alguma fã ou coisa do tipo, mas não sou,não que você não mereça fans né.Eu precisava de um modelo de vida livre assim como você. Obrigada.
[Imagine esse texto com muito mais emoção,pois eu não sou boa como você em escrever ]
pronto. terminei de ler todo o seu blog! obrigada pelas quase duas horas de leitura, aline! :)
voltarei sempre.