Não era só mais um sábado-de-manhã. Era o primeiro sábado-de-manhã em 7 meses que eu me sentia disposta de verdade, sem aquela ressaca doida de tanto trabalhar. Considerei isso bom, já que aquele era mais um “grande dia” da minha carreira jornalística. Era a minha vez de “doar” um fim de semana inteiro para a firma. Era a minha vez de mergulhar em um desses fabulosos plantões, em que pessoas morrem, acidentes acontecem e celebridades posam de bunda pra cima e decote exagerado.
Tenho que admitir que os últimos meses têm sido cansativos. É que pagar as contas sozinha não é tarefa muito fácil e, por isso, acumular zilhões de freelas ao mesmo tempo garante não só que não falte Ninho Soleil na minha geladeira (eu amo, mas sabia que é caro?) e que eu permaneça sempre ocupada (sou meio hiperativa, sabe como é!). Mas naquela manhã, parece que a ordem do dia era “não reclame, só faça”. Sendo assim, resolvi que era um momento ótimo para também quebrar algumas regras que tenho na minha vida social. Então:
1. Eu sairia no sábado à noite, mesmo tendo que trabalhar no domingo bem cedinho. “Por que não, sabe?”, eu me perguntava. Eu tinha três convites diferentes de festas e recusar todos para mofar no sofá num dia de calor parecia loucura.
2. Eu iria para uma festa que sempre achei caída e cheio de pirralhos prepotentes. Mais uma vez: por que não? Eu gosto de sofrer mesmo…
E, finalmente:
3. Não importava o preço da bebida. Eu pagaria! Afinal, para que trabalhar tanto se a gente não vai gastar esse dinheiro quando tiver vontade e como bem entender?
A noite chegou. Vesti uma roupa qualquer de calor e saí pela porta do apê 51 com uma amiga prometendo que aquele seria uma noite inesquecível. E minhas palavras ganham tanta força que eu fico até surpresa. Já eram 2 quando eu encostei no balcão para mais uma bebida. “Vodca com energético, por favor”, um amigo pediu pra mim. Eu já estava bem animadinha e, por isso, fiquei confusa com a quantidade de perguntas que a moça do bar resolveu fazer. A gente já tinha falado que podia ser Orloff na bebida e ela repetia a mesma pergunta outra vez. Me senti naquele episódio do ‘Chaves’, em que a conversa fica horas no mesmo diálogo: “O que eu disse?” e “E como é?”. Enquanto a moça preparava meu drink, um rapaz resolveu se gabar de sua vida sexual.
– “É, eu gosto mesmo é duma coisa mais maso, saca? Cara, mulher gosta de ser amarrada na cama. Mulher gosta de ser chupada toda, inteirinha”, ele disse.
Eu cantava ‘Lisztomania’, do Phoenix, e ao mesmo tempo tentava não rir do “pequeno rapaz”, de 22 anos, moreno-praia e de camisa branca mais curta e justinha.
– “Eu fiz um ménage com duas meninas. Agora tô marcando mesmo é com eu, um brother e uma mina. A gente vai chupar ela inteira, cara!”, continuava o novinho, sem se preocupar com quem o ouvia.
Eu me irrito com caras que querem mostrar demais e aí não sei me controlar. Finjo o maior interesse e começo a trollar na primeira oportunidade que surgir. É que você vai me perdoar, mas se eu não perguntar, é porque provavelmente eu não quero saber se você come alguém toda sexta, ou se você estuda numa faculdade de 2 mil reais mensais, ou se você tem um apartamento de frente para o Ibirapuera, ou se você já foi reconhecido por sei lá qual instituição internacional que você considera tipo um Nobel da Paz, sabe?
Daí eu comecei…
– “Nossa! Mas que experiente você é!”, eu disse, carregada de sarcasmo. Depois disso, olhei para uma amiga e continuei: “Olha que coisa esse rapaz!”. Ele, todo orgulhoso, sorria sem parar. “Com quantas você já ficou?” foi a minha última pergunta.
– “Não quero me gabar não, mas pode anotar aí que tem 15 para 30 mulheres na lista de quem eu já comi”, disse o filhote de pombo da balada de pirralhos prepotentes.
Respirei, peguei minha bebida, dei um gole desses bem grandes e esqueci que o rapaz estava ali. Virei para a pista e foi aí que o Victor, um rapaz branquinho, carequinha, bem bonitinho e da minha altura, me cutucou.
– “Você é linda! Não acredita nesse cara não! É tudo história. Quantos anos você tem? Eu, como um homem gay de 26 anos, posso te dizer que isso é tudo papo”, afirmou o fofo preocupado da camisa quadriculada. Eu o acalmei:
– “Olha, que bom que a gente tem a mesma idade! Que bom que a gente sabe que um loser desses nunca iria comer tanta menina assim nessa idade, a não ser que tenha pago por elas”.
O Victor sorriu grande e eu sorri de volta. Eu dei um outro gole na minha bebida e ele na dele. O Victor então me deu um superabraço e pediu:
– “Me dá um selinho? É pra marcar a nossa amizade instantânea”
E eu dei. E saí do bar rumo a pista agradecida por não ter que lidar só com babacas na balada. Mesmo quando está óbvio que o que eu gosto mesmo é de sofrer.
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Quero conhecer o Victoor hahah
Aline,
Amo seus textos e acho incrível esse seu dom de contar histórias.
Histórias reais são infinitamente melhores, pq se encaixam com o dia-a-dia. Tanta ficção e comédias romanticas cansammmm.
Passo horas e horas lendo e me vendo em várias situações. Quando você fala de determinados lugares eu começo a rir, São Paulo é tão ridiculamente pequena e as baladas de playboys são TÃO previsíveis, começo a lembrar das várias noites nessas baladas falidas, cheia de estudantes da FAAP e GV, e penso ” cara, pq eu me meto nesses lugares? hahahah “.
O melhor de tudo é que você não força um acontecimento, você não se cobra para postar todos os dias e isso é genial, não há invenções para florear os momentos comuns.
Sinto falta de escritores como você.
Parabénssssssssssssssss!!!
Beijo grandeeeee
Adoro essas amizades de uma noite só. Deu vontade de conhecer o Victor.