Sou uma pessoa que acredita bem pouco em inferno astral, mas que tem convicção que, especialmente na minha vida, existe um fenômeno chamado ‘correria-pré-envelhecimento’. Minha teoria é de que isso acontece todos os meses de setembro, em que eu completo anos, para me fazer esquecer o quanto eu odeio aniversários. Tenho vergonha de receber ‘parabéns’, gente. Eles são sempre carregados de um monte de qualidades que eu nem sabia que tinha. E neste ano, em que sobrevivi oficialmente por 26 anos na Terra, não foi diferente. Mudei muito de ‘cenário’ desde o fim de agosto e só quando sentei na poltrona 11B do voo 6004 da Avianca pro Rio é que consegui relaxar. Foi aí que conheci a engenheira sem nome do post.
A engenheira sem nome do post usava jeans larguinho, camisa de seda e tênis de corrida. Era loira, nem muito baixinha, nem muito alta e carregava sua mochila azul pra lá e pra cá. Tinha 51 anos, já bem estampados em seu rosto, e usava óculos de armação branca. Lia o ‘Valor Econômico’ distribuído no embarque, mas parecia muito mais interessada no meu ‘Meu Pescoço é Um Horror’, da Norah Ephron. Depois que disse seu ‘bom dia’ para mim e para uma moça loira que vestia Chanel ao meu lado, ficou observando todos os movimentos das pessoas ao redor, como se aquela fosse a primeira vez na vida em que convivia com pessoas desconhecidas.
– “Engraçado como mesmo depois da aeromoça ter avisado para não usar o celular, as pessoas não conseguem desconectar, né? Ficam ali teclando o tempo todo. Nem deve ser importante, deve ser só ansiedade”, comentou comigo. Eu concordei.
A engenheira sem nome do post é mãe de 2 filhos, já casados, e tem um netinho muito fofinho. Mora em Alphaville, em São Paulo, mas passa todos os finais de semana em sua casa de praia em Ilha Bela para relaxar. Tem uma obra grande subindo na Vila Olímpia e andava tão ocupada trabalhando que nem notou que já são 30 anos sem férias.
– “Isso é sério?!”, eu perguntei, chocada. Trabalhei muitos anos como freela e quase nunca podia tirar uns dias pra mim, mas 30 anos me pareceu, sei lá, triste.
A engenheira dos 30 anos sem férias do voo ia para o Rio encontrar uma amiga de Macaé. No dia seguinte, bem cedinho, pegaria um voo para Miami para passar 10 dias no exterior. “De pernas pro ar”, disse, toda feliz, me fazendo sorrir.
– “Vai numa restaurante-balada chamado Mango’s Tropical, na Ocean Drive, em Miami Beach”, eu indiquei, notando só depois que talvez aquele não seria o tipo de programa que ela procurava. O Mango’s é um ‘estabelecimento’ divertido. Tem uns rapazes que sobem na mesa do bar para dançar música latina sem camisa, umas moças bronzeadas de salto fazendo a cumbia e drinks bons e baratos. Também tem uma portinha em que você entra e, TCHANÃN, está longe do clima latino e curte uma balada de hip hop com afro-americanos carregados de cultura.
Não sei se a engenheira sem nome do post vai no Mango’s, mas que ela gosta das mesmas coisas que eu gosto, é fácil saber. Quando o avião pousou, ela pegou a mala no bagageiro e antes de desaparecer no meio dos passageiros, disse: “Agora vou lá, ficar na piscina do hotel tomando uma cerveijinha e depois correr na praia. Rio de Janeiro lindo!”. Boas férias, engenheira sem nome do post!
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Amo seu blog e fico ansiosa para o proximo post. O pai de uma amiga tbm ja passou pra lá de 30 anos sem ferias ate que a saude nao aguentou e ele se demitiu. Hoje todo dia é ferias ahaha
Amo ‘hoje todo dia é férias’. Queria saber o desfecho da história da engenheira. Talvez seja o mesmo do pai da sua amiga! :P
Uma curiosidade: Você nunca pega contatos (nem que seja facebook) das pessoas? Nossa, diante dessa mulher, com certeza pediria para ver no que deu e curtir as fotos dela nas férias depois de 30 anos… rsrsrs
E antes que eu esqueça: amoooooooooooooo teu blog!