Eu já nem sentia os meus pés naquela sexta-feira à noite. Depois das várias recomendações para ‘não ir com essa sapatilha preta e desconfortável’ para a Cidade do Rock, decidi seguir a minha intuição errônea de ‘a dor é sempre psicológica’ e, claro, me dei mal.
As bolhas, porém, não eram a minha maior preocupação. Já passava das 7 da noite, a luz já havia caído, e me restava zero esperança de encontrar uma pauta divertida durante a minha cobertura do 1º dia de Rock in Rio. O “bem que algo muito sensacional poderia acontecer aqui na minha frente agora” já era um loop eterno na minha cabeça quando, de repente, enquanto eu assistia ao tributo ao Cazuza na lateral esquerda do palco principal, uma moça gordinha vestindo apenas um colã preto e apertado surgiu no meio da multidão. Pra mim, aquela era a maior prova de que existia força no pensamento.
Verônica cantava ‘Single Ladies’ feliz pra lá e pra cá. Confiante – ou bêbada?, era seguida por um grupo de amigos tão animados quanto ela. Rebolava, girava, agachava e parava para tirar foto com os fãs da cantora Beyoncé, que seria a última atração da noite. Eu sabia que era de alguém como ela que eu precisava e, por isso, esperei que a negra de cabelos encaracolados se cansasse um pouco da zoeira. A oportunidade de entrevistá-la veio quando os amigos da Beyoncé brasileira pararam para comprar cerveja com um backpacker. Já rindo, cutuquei as costas dela e disse que tinha amado o visual.
– “Cara, e esse colã? Tá idêntica! Você faz as dancinhas também?”, eu perguntei.
– “Faço igualzinho! Se esse povo aí da frente me deixar, eu vou subir no palco para dançar com ela”, ela disse, toda desbocada.
Apesar da simpatia, Verônica parecia nervosa conversando comigo. Ela mal ouviu de qual veículo eu era, mas entendeu que aquele papo era para uma matéria jornalística.
A ‘sósia’ brasileira de Beyoncé é natural de Duque de Caxias, mas mora em Bangu. Apesar de ‘seguir carreira artística’ como diva, ela é estudante de química e trabalha como funcionária pública no Rio. “Pô, eu trabalho, mas nas horas vagas eu sou a Beyoncé mesmo. Sou a maior fã dela que existe no mundo”, me contou.
Verônica não se deslumbrou com a foto que tirei dela para a matéria. Assim que cliquei, ela me deu tchau, agradeceu e saiu dançando pela grama sintética da Cidade do Rock. Beyoncé do Brasil queria se divertir. Nada mais justo.
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