O Elton era um dos poucos taxistas da rádio táxi da minha região que eu ainda não conhecia. Sempre falo sobre família com o Luiz, sobre concursos públicos com o Gerson e sobre o aplicativo do tempo do Yahoo! com o Elias. Entrar num carro de um desconhecido me deixa animada. Quem é o cara que está dirigindo? Como é a vida dele? Ele é do tipo reclamão? É desencanado? Posso contar no trajeto sobre a minha prima que casou com o trapezista do circo que se instalou perto da nossa casa quando éramos crianças?
Minha conversa com o motorista naquela manhã de terça deve ter se iniciado com um dos típicos ‘tá calor hoje, né?’, mas se desenvolveu bem rápido para o assunto ‘pessoas fanáticas’. Elton dizia que era corintiano e que achou um absurdo quando o pessoal do condomínio dele pediu R$ 150 pra fazer uma churrascada na noite anterior ao jogo do Corinthians contra o Chelsea no mundial, em dezembro. ‘Que isso! Não sou torcedor fanático! Nunca daria dinheiro sem saber que o time realmente tinha ganhado o jogo’, disse, meio indignado.
Elton me deixou confusa, porém. Logo depois de zoar o pessoal que se ilude com times, bandas e artistas, ele comentou que quase embarcou para o Japão para assistir o jogo de lá. Assim que entrou nesse assunto, tirou os óculos de sol, deixando seus lindos olhos claros à mostra, e contou que não queria o tal pacote só pra ver a partida. ‘Eu e a minha esposa gostamos muito de viajar. Ela é budista, então ir pra lá já seria legal por outro motivo: pra conhecer alguns templos’, contou.
Não sei por qual motivo, mas achei lindo o Elton citar a esposa. Os casadosa, ainda mais esses mais jovens, não têm feito isso ultimamente. Sempre apresentam as mulheres, pra quem disseram aquele ‘sim’ apaixonado na igreja, como um peso nas costas, como tolas que não param de encher o saco.
Apesar de ser janeiro, o trânsito de São Paulo não era dos melhores. Ficamos parados no túnel e entramos no assunto viagem. Ele dizia que seu sonho era ir pra Las Vegas e eu contava que Vegas era o lugar mais legal que eu já tinha conhecido na vida – não que meu salário de jornalista possa proporcionar tantas viagens bacanas assim. ‘Sério! Você precisa ir na montanha russa dentro do hotel’, dei a dica. Ele me perguntou onde eu tinha me hospedado e contou que queria ficar no Caesers Palace.
Contei pro Elton que tinha ido recentemente num cruzeiro e que aquela viagem nacional tinha sido a primeira que não saiu mais cara do que uma viagem internacional. ‘É, viajar aqui é bem mais caro. Não faz sentido’, retrucou.
O meu novo amigo taxista começou a me falar sobre as viagens nacionais que já tinha feito. Foi para Ilhéus e Itacaré, na Bahia, e disse se impressionar com o preço baixo das bebidas alcóolicas. ‘Pô, não teve um dia que consegui ficar sóbrio por lá!’, exclamou, rindo alto. De acordo com ele, uma caipirinha custa a R$ 3 nessas cidades. Fiquei chocada, de verdade. Num boteco em São Paulo, uma caipirinha custa R$ 9, enquanto numa balada não sair por menos de R$ 20.
Ainda empolgado com o papo, Elton falou de um pacotão que ele havia comprado para Maceió. Sete dias num resort no meio das praias mais bombadas, café da manhã incluso e aéreo ida e volta tanto para ele, quanto para a mulher. Sairia por R$ 2380. Barato, vai.
Eu já tinha chegado ao meu destino final quando me dei conta. Desejei ótima viagem para o Elton e para a esposa – eles vão em março – e disse, brincando, que queria ver as fotos de Alagoas depois. ‘Pô, me acha lá’, disse, todo feliz. ‘Meu nome é Elton dos Santos’.
Ainda não o procurei.
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oooh minha filha, tem o que nesses seus posts? drogas é? porque eu não consegui parar de ler até acabar TODOS! E fiz cara de cachorro abandonado na beira da estrada quando vi que tinha chegado no numero 1. MUITO BOM seu blog, muit legal mesmo. Dava um livro isso aqui sabia? Me sinto honrada em ser a primeira a postar um comentario no post nº 16. E sim, eu espero que o titulo seja real, pra que eu tenha mais 985 historias tão boas como essas 16 que eu acabei de ler, pra encher meus dias =D Beijo grande ;*
Hahahahaha, que demais! Comentários assim me deixam com cara de boba <3. Volte sempre! E vamos ver se eu consigo completar a missão das 1001 histórias, né. Beeeijo e muuuito obrigada!
Oi Aline!
Acabei de ler seu blog inteiro – hahahah – e achei um ‘projeto’ incrível. Eu moro em uma cidade onde as pessoas mal se dão ‘bom dia’ na rua. Quando algo desse tipo acontece comigo eu fico tão feliz… Mas ao mesmo tempo me sinto um pouco deslocada: ‘será que eu deveria ter parado pra falar com esse hippie aqui?’ hahaha.
Não pare de contar as histórias não. Dá vontade de esbarrar em todas essas pessoas por aí – e em ti também, hahaha – só pra bater um papinho.
Beijos!
Oie, Lu! Bom, nem precisa falar que eu também sou de uma cidade onde ninguém se olha na cara, né? Você falou tudo: quando coisas assim acontecem eu também fico deslocada em ser a única diferente, que vai parar pra conversar, que vai dar atenção. Obrigada pela visita :) beeeijos
Conheci seu blog agora e tenho que dizer que adoro. As pessoas que você conhece e descreve são incríveis. E muito bom saber que ainda existe pessoas interessadas no que outros tem a dizer. Vivo em Brasilia e aqui mal um sorrisos para estranhos acontece, imagina então conversar com eles. Acredito que também a genialidade desse projeto parte de você. Aposto que você é uma pessoas bem fácil de conversar e conviver.
Estou esperando um livro!
Own! Obrigada :* Focando em conhecer as 1001 pessoas incríveis primeiro e depois pensarei se dá um livro – e se vai interessar alguém né, hahaha! Obrigada, obrigada, obrigada! :*
adoreeeeeeei !
Aline dá uma vontadezinha de conhecer todos essas pessoas e viver todas essas histórias! Só eu procurei o Elton no facebook?
Hahaha, eu encontrei o Elton no Face, mas achei melhor deixar pra lá, né. Beijooos e obrigada pela visita!
Adorei o Elton!! Sou nova em SP e sempre pego os taxistas malandros que querem me passar a perna. Espero um dia encontrar um Elton também!
PS: Não acredito que vc o achou no face!! haha Ele tem muitas fotos das viagens?
Vc achou ele? Ahaha