Aquela era a minha segunda vez no Panamá. Nada que se possa chamar de turismo, já que nem sair do aeroporto eu consegui sair. Voltava ao Brasil depois de férias em Miami, na Flórida, com algumas amigas e minha escala era em Panamá City, um lugar bacana do mundo onde a salsicha do cachorro quente é, pelo menos, três vezes maior do que próprio pão. É… Essa deve mesmo ter sido a única coisa que consegui captar da cultura deles durante as minhas duas horas na sala de espera.
Com ‘Look At Me Now’, hit do verão em South Beach, tocando repetidamente no meu iPod, o tempo passou rápido. Eram 4 da tarde no horário local quando uma atendente anunciou ao microfone: ‘O embarque dos passageiros do voo 0725, com destino ao Brasil, está autorizado’. Levantei num pulo, entreguei meu bilhete para a mocinha e, logo que entrei no avião já percebi que o meu assento era aquele, o pior de todos – pior até mesmo do que o colado no banheiro. Era aquele com pouco espaço para as pernas… Aquele que te obriga a ser o herói caso alguma coisa de errado aconteça durante o voo. Mas tudo bem… O importante mesmo era que a porta do avião se fecharia em 5 minutos e que ninguém até aquele momento havia se sentado no terceiro lugar da nossa fileira. Isso ajudaria uma amiga e eu a abrigar quase 2 metros de pernas – carregadas de cansaço devido aos dias de compras e festas no exterior – pelas 6 horas seguintes até Guarulhos.
A aeromoça já checava se todos os cintos dos passageiros estavam afivelados quando um grupo de crianças entrou no avião fazendo a maior barulheira. Poucos segundos depois, lá estava ele, um garotinho de uns 9 anos, sentando ao nosso lado. Negro, carequinha, de olhos amendoados e lindos, ele pulou no banco todo feliz. Vestia uma calça bege e uma camisa polo bem passadinha e falou algo em espanhol numa velocidade quase que impossível de acompanhar. Até procurei a mãe dele nas fileiras da frente, mas não, ela não estava. Só depois é que descobri que o garotinho estava em excursão ao Brasil com mais 6 ou 7 amiguinhos.
Era a primeira viagem internacional do panamenho de nome que nem eu, nem a minha amiga que namorava um mexicano há 1 ano, conseguimos entender. A ansiedade era tanta que ele e os outros meninos, espalhados pelo avião, cantavam, dançavam e gritavam, além de, é claro, correrem pra lá e pra cá no corredor, me fazendo ter certeza de que aquele era o último dia da minha vida. ‘Se o avião não cair, a gente é sortuda pra caralho’, disse, rindo, para a minha amiga. Os meninos só pararam mesmo quando o jantar – penne ao molho branco – foi servido. Sem saber como abrir o pote da comida, o negrinho olhava de rabo de olho o que os outros passageiros faziam. Até tentou imitar, mas não conseguiu. Falava palavras em espanhol para os amigos nos bancos da frente, mas ninguém respondia. Deveriam estar de boca cheia. Foi quando resolvi ajudá-lo. ‘É assim, amor’, eu disse. Com um sorriso largo de alívio, ele deu a primeira garfada. Depois de 25 dias vivendo de fast-food, até eu estava aliviada.
Após comer tudo e abrir seu pacote de amendoim de sobremesa, ele voltou a falar em espanhol bem rápido. Minha amiga então o cutucou e puxou papo. Descobriu que o garotinho viajava ao país para participar de um campeonato de futebol. ‘Meus amigos jogam, mas eu que faço os gols’ foi a única coisa que consegui entender. ‘Que metidinho’, pensei. Aparentemente, o negrinho fofo quase não conseguiria embarcar, já que seu passaporte demorou dias para ficar pronto. ‘Dei sorte’, disse alto. O papo continuou e a nossa conversa atraiu os outros garotinhos, que pareciam encantados porque o amigo falava com meninas. Chegavam correndo do lado dele e sussurravam, rindo: ‘Você arranjou namoradas!’. Sem graça, o menino dava tapinhas na cabeça dos colegas e pedia para que eles ficassem quietos.
Graças ao pequeno craque panamenho, a dor nas pernas nem incomodou. Na hora de sair do avião, até perguntamos, brincando, se podíamos assistir ao jogo dos meninos. Foi quando o técnico, vestindo calça jeans com camisa para dentro, apareceu do nada e, interessado, nos deu o endereço onde a competição aconteceria. Na hora da retirada das malas, passou por nós sorrindo e soltou um ‘vocês vão lá mesmo, né?’. E a conversa inocente com o pequeno panamenho virou, sem querer, paquera de aeroporto.
Tenho outra escala no Panamá nesta semana. Desta vez, queria ter mais para contar sobre o país do que a salsicha do cachorro quente deles.
Google+
Oi Aline.
Descobri seu blog por acaso, numa das minhas loucas pesquisas internéticas.
Gostei muito da sua narrativa, do jeito leve e gostoso de conduzir suas histórias, muito divertidas por sinal.
Já virei leitora assídua e, pasmem, li todos os posts do blog, desde o começo.
Tenho somente um único pedido a você: por favor, escreva um livro.
Beijos!
Hahahaha, Mari! Que legal que achou do nada e já virou leitora. Obrigada de verdade pelos elogios. Me deixaram com um sorriso enorme no rosto. Beijão =)
Haha que lindeza é ler os seus textos. A gente lê e vai imaginando as pessoas, as cenas .. Adorei o menininho do Panamá, e viciei na musica do Chris Brown.
Beijo grande Aline.
Aline, você não foi conferir se o menino era só metido ou se estava falando a verdade sobre ser o artilheiro? hahahaha
Juro que queria ter ido, hahaha! Meus amigos não me deixam!
Aline, descobri seu blog faz umas 2 horas… e resolvi que ia ler tudo de uma vez e depois comentar :)
Que coisa mais incrível esse seu projeto! Parabéns pelo seu jeito com as palavras, espero de verdade que sejam 1001 histórias pra ler.
Ah, morei muitos anos na Bela Vista também, deu saudades rs.
beijos e sucesso
Oie, Luiza!
Que bom que está curtindo o blog! Volte sempre! E volte a visitar a Bela Vista. :)
Oi, amei teu blog! Descobri através do Depois dos Quinze hoje mesmo, e já estou viciada na maneira como você escreve! Adorei também a temática do blog! Beijos,
Giovanna