7. Tiaguinho, o amor que eu não peguei pra mim


De calça vermelha, rabo de cavalo e identidade em mãos, eu esperava a minha vez de votar na escola do meu bairro. Desde os 17 anos, é lá que eu exerço o meu papel de cidadã brasileira. Já pensei em faltar algumas (muitas) vezes, assim como já adiei a tarefa para os últimos 5 minutos algumas outras. “Você ainda vai arrumar problema por causa disso”, repete minha mãe sempre que encontra uma oportunidade. Eu sou naturalmente preguiçosa, mas confesso: quando entro por aquelas portas verdes, me bate uma nostalgia bem particular, uma vontade de ficar muito tempo ali. Lembro de quando ir lá era proibido… De como era emocionante contornar – de bicicleta e às escondidas – aquele lugar.

Mas não foi assim, burlando as leis impostas pela minha mãe, que eu conheci o Tiago. O Tiago, na verdade, era da escola onde eu estudei pelos quatro melhores anos da minha vida: o Adelino. Foi lá onde me apaixonei pela primeira vez, onde dei as risadas mais eternas da minha adolescência e onde eu descobri que eu queria mesmo viver de palavras. Ganhei até um prêmio de melhor rima na aula de português depois de fazer um texto sobre o 11 de setembro. É…

O Tiaguinho, como era mais conhecido, não era o garoto mais cobiçado da escola. Ele nem chegava perto disso, aliás. Naquela época, o branquinho de calça jeans e all star branco era um pouquinho vesgo, andava meio esquisito – ele parecia um patinho – e era extremamente tímido. Tão tímido que tinha pouquíssimos colegas. Um deles era o Gustavo, um moreno simpático e divertido de olhos bem puxadinhos que, por sinal, ocupava o posto de senhor-meu-melhor-amigo.

Quando o Gustavo faltava, eu sentava com as minhas amigas no pequeno palco do pátio do colégio e observava as pessoas no recreio. O Tiaguinho sempre comia a canjica dele do meu lado, imitando meus gigantes olhos castanhos que prestavam atenção em cada movimento. Não conversávamos, não. Não que eu me lembre. Sei que ele quase sempre gaguejava quando começava a falar o meu nome. Até me diziam que ele nutria uma paixão por mim, mas eu vivia muito no mundo da lua para perceber. Naquela época, era o garoto com nome de cantor de MPB que eu amava (Milton, ó, Milton!).

Na sétima série, um ano depois de nos conhecer, o Gustavo decidiu que apesar da nossa brodagem, o lugar dele era com outros amigos, numa outra escola, que tinha o nome de Cidade dos Meninos. Eu não sabia onde essa tal “cidade” ficava. Eu só não gostava dela por alguns motivos bem básicos: 1) por tirar meu melhor amigo de mim e 2) por simplesmente detonar a ponte que ligava o Tiaguinho e eu. Mas a raiva passou. O tempo sempre a leva embora.

Essas eleições de 2012 foram estranhas. Quando vi o Tiago (ééé!) subindo as escadas da escola onde eu estava votando, eu quis enfiar a minha cabeça num buraco que, infelizmente, não existia. Abaixei a cabeça, então, sem coragem de encará-lo. Afinal, passaram-se 13 anos. Tre-ze.

Ele estava com o amor da vida dele agora – ou não. Rezei para a moça da bancada me chamar logo, de preferência sem falar meu nome em voz alta. Daí votei – com certeza na pessoa errada (existe pessoa certa nesse Brasil?). O Tiaguinho estava na mesma sala que eu e me olhou por um instante. Se reconheceu, eu não tenho certeza. Eu o reconheci.

2 thoughts on “7. Tiaguinho, o amor que eu não peguei pra mim

  1. Conheci o seu blog hoje e to amando, mas uma curiosidade esta quase me matando! Todas essas historias são reais? Você realmente ja passou por todos esses cenários com essas pessoas um tanto engraçadas e interessantes? Abraço e Boa Sorte ;))

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