92. O cara que mijou no meio da balada

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“Deu tudo errado mais uma vez”, choraminguei, toda sensível, depois de constatar que eu tinha alguns dias de folga pela frente, já que havia dado plantão o Carnaval inteiro, mas não tinha feito nenhum plano para aproveitar bem os dias de descanso. Eu gosto de viajar, nem que seja de São Paulo até Santo André, e tinha pensando em visitar o PETAR, uma reserva em Apiaí, no interior, cheia de cavernas. Acabei distraída com outros compromissos e deixei tudo para a última hora.

“O jeito vai ser ficar aqui e zerar o Mario Kart, ou ler os livros do Jonathan Frazen que estão apodrecendo na minha estante”, conclui.

Ando extremamente viciada em algumas coisas – mais especificamente no meu Wii U. Comprei há pouco mais de um mês, depois da insistência pesada do meu boy nerdinho. “O XBox não foi feito pra o tipo de jogadora que você é”, disse ele, referindo-se ao videogame que eu tinha. “Você vai adorar o Wii U. Vai ficar muito tempo jogando”, completou. Eu não acreditei, mas assim que o jogo chegou em casa, minha vida mudou. Funciona basicamente assim: eu tenho um zilhão e meio de coisas para fazer todos os dias, mas não faço nada, absolutamente nada, além de jogar. A parte boa disso é: Estou com vários pontos na competição online do Mario Kart, já tenho vários carros novos e sempre chego nos primeiros lugares. E a parte péssima disso é: todo o resto. Eu deixei de lado os planos de ler 3 livros por mês, esqueço de fazer as compras de comida, já não assisto mais televisão e seriados…

… Enfim, é grave!

Além de usar dois dos quatro dias para me dedicar a alguns projetos paralelos, joguei. Joguei com alma. Joguei com coração. Ganhei tudo o que era possível ganhar. Não me via fazendo nada além daquilo nos dias de folga, até que… Enjoei!

– “Acho que ficar de pijama o dia todo não está me fazendo bem. Preciso sair de casa”, pensei, apesar da preguiça intensa.

O programa do sábado foi a festa do Ano Novo Chinês na Liberdade, em São Paulo. O combinado era dar uma passeada (também conhecida como pegar um sol nas perna tudo), petiscar (yammy, yammy, tempurá!) e ver algumas lojinhas (alô, você que curte papelaria, vá já para a Liberdade!).

Comi, vi o que tinha pra ver e, sob um calor desgraçado de uns 33 graus, me deu um clique:

– “Aqui é tão legal, néam? Por que não voltar mais à noite pra um karaokêzinho esperto?”

Voltei.

Mais tarde, lá estávamos eu e alguns amigos na Chopperia Liberdade, um tradicional karaokê da região. Era isso: naquela noite, soltaríamos a voz naquele lugar breguinha porém incrível. Cantaríamos todas as músicas clichê que um karaokê merece. Eu apostaria no Raça Negra, no Molejão, no Rouge e no Justin Bieber. Meus amigos cantariam também suas canções favoritas para passar vergonha (e/ou ser aplaudido pela multidão).

Ou era o que eu pensava que faríamos.

Fizemos tudo, mas não cantamos no palquinho. E mais: de repente, o rolê começou a ficar muito deprê. Quem cantava, cantava músicas tristes, tipo essa e essa. Além disso, havia um casal que subia ao palco o tempo todo para…  Cantar bem. Poxa, nunca achei que karaokê fosse lugar de gente que canta bem.

Era cedo, mas era hora de ir embora.

Aparecemos então na festa de aniversário de uma outra amiga numa balada chamada Trash 80’s, no centro da capital. Quando eu morava no meu antigo bairro, meus amigos sempre combinavam de vir para o centro especificamente para ir nessa balada. Nunca gostei. Adoraria se a balada fosse mais pra Trash 90’s. Não acho divertido cantar Xuxa na balada. Sou mais o Tchan. Mas fui mesmo assim.

Chegamos já alterados (eu tinha bebido a tarde toda, por exemplo) e fomos quase que instantaneamente para a pista de dança. Tocava alguma música de seriado antigo quando eu conheci o mijão da balada.

Eu dançava animada, sem prestar atenção em muita coisa, quando vi o chão molhado e uma espécie de mini-coro de ‘ow!’. Olhei para o lado e lá estava ele, o cara que tirou o pau pra fora e mijou no meio da balada. E pior: mijou bem em direção à uma amiga. Ela diz ter sentido o “quentinho” do mijo escorrendo pelas pernas.

O mijão da balada era gordinho, parecia um dos 7 anões (só que alto), vestia branco da paz e se fingiu de vítima. Deveria pensar: ‘Ai, galera, nem fui eu, parem de me olhar, procurem o verdadeiro culpado’. Quando consegui, finalmente, processar a informação (é, não é fácil acreditar que um cara resolveu, do nada, mijar no meio de uma balada), era tarde demais: ele já tinha ido pra algum outro lugar se esconder. O que eu pensei, possessa, foi:

GATO. VOCÊ. TÁ. FODIDO. AGORA. SEU. FILHO. DUMA. PUTA.

No geral, sou muito fofa com pessoas mal educadas. Apesar de ficar puta da vida com quem não tem senso comum, eu tento não deixar isso tão explícito porque, nem precisa dizer, sou pequena, magra e se alguém quiser me encher de porrada, é superfácil. Mas não me aguentei desta vez. Além de ajudar a encontrar o filha-duma-puta-mijão e indicá-lo para os seguranças da balada (que não fizeram nada, que vergonha!), resolvi atormentar parte da noite dele.

Peço desculpas por antecipação. Não sou a favor de justiça com as próprias mãos, mas aqui julguei necessário. Comecei a tentar encontrá-lo na balada. Esperei ele ficar de costas e, delicadamente, deixei cair um copo de caipirinha de frutas vermelhas na bermuda branca dele. Tipo: com gelo e tudo. Ele pareceu não notar. Daí resolvi deixar que, oops, uma cerveja caísse nele também. Mais uma vez, ele pareceu não se incomodar.

Desisti momentaneamente. Valia a pena perseguir um idiota desses por muito tempo?

Acho que não.

Quer dizer: ACHO QUE SIM.

Me diverti loucamente na festa (não faço a menor ideia quais eram aquelas músicas tocando), mas também o observei bastante e esperei ansiosamente até a hora de ir embora. Antes de pagar a minha comanda, resolvi falar com o cara que mijou no meio da balada.

Música alta, todo mundo curtindo…

O cutuquei, sorridente. Ele, sorrindo de volta, tentou pegar na minha cintura. Certeza que achou: aí, alguém está me abordando, vou me dar bem! Puxei a orelha dele pra perto para que ele pudesse ouvir o que eu tinha pra dizer sem que o barulho alto atrapalhasse. Ele, calmo, esperou que eu falasse:

“Fala, querido! Tudo bom? Se liga: dá próxima vez, quem vai mijar em você no meio da balada sou eu, te prepara”, eu disse.

Olhei para a cara de choque dele, virei as costas e saí andando. Já tinha cumprido minha missão ali. E não, mijar em alguém sem que essa pessoa peça (existe fetiche pra caramba, né, gente?) não é permitido.

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