2. Lacerda e Leleco, os desentupidores

O Lacerda chegou em casa às 23h de uma sexta véspera de feriado. Trazia seu carrinho desentupidor, suas luvas verde musgo e seu fiel ajudante, que mais parecia um daqueles personagens do núcleo Lapa das novelas da Rede Globo. Eram simpáticos, simples e o mais importante naquele momento: estavam di$postos a resolver o meu problema. É que a minha pia da cozinha havia entupido pela primeira vez nos 6 meses que tenho no meu apê 51.

Lacerda e Leleco (vou chamá-lo assim neste post, ok?) não conseguiam arrancar os canos da pia. Usaram os braços,  chaves especiais, produtos que prometiam milagres e, ainda assim, nada. Por este motivo, passaram mais tempo em casa do que eu gostaria. Apesar da demora e da dificuldade, não faziam um piu. A vida em prédio que só tem velhinho chato não é fácil e eles perceberam isso sem eu precisar dizer.

Às 23h30, exatamente, os encanadores ligaram uma máquina que, juro, fazia menos barulho do que a minha máquina de lavar roupas. Ela precisava ser usada por, no máximo, 10 minutos. E foi a maior surpresa ver o meu vizinho, que nunca veio nem me dar boas-vindas sequer, saindo pela porta do apartamento 53

Como filho da puta que é filho da puta não se toca, o gordinho, de óculos, de gel no cabelo e, pior, de cueca samba canção do São Paulo, veio até a minha porta, que estava entre aberta e perguntou, irritado:

– Que tipo de trabalho está sendo feito aqui às 23h30?

Chocada com as vestimentas dele, só consegui pensar que eu não podia ser grossa (às vezes é tão difícil controlar!). Poderia acabar com ele em dois segundos e soltar uma das minhas típicas grosserias. “Que tipo de trabalho VOCÊ, meu filho, estava fazendo pra achar que  tudo bem chegar na porta da minha casa de cueca?”, pensei em perguntar, de leve. Mas o espírito de harmonia que reina no meu ser desde o começo do ano me fez ser fofa:

– Desculpa. Minha pia entupiu, o cheiro estava subindo e eu não ia conseguir dormir aqui. Não vai demorar, prometo. Desculpa de novo.

Pela cara do Leleco, ele também não imaginava que eu soltaria uma dessas. Completando minha frase, ele disse: “Guenta aí, chefe. Serão só mais 5 minutos”. Meu vizinho deu as costas e, sem falar nada, entrou no apartamento dele. Assim que bateu a porta, soltei um leve “pau no cu desse filho da puta” que fez com que os dois encanadores rissem mais do que o normal.

A conclusão é que Lacerda e Leleco viraram meus brothers: me ajudaram a limpar a cozinha, que havia ficado uma bagunça, e ainda me deram um puta de um desconto (afinal, o problema era maior do que eu esperava). Quanto ao vizinho? Menos de três semanas depois, ficou amigável e disse que posso contar com ele para o que precisar. É…

2 thoughts on “2. Lacerda e Leleco, os desentupidores

  1. Sempre morei em casa, mas sempre imagino as tretas que poderiam acontecer com a barulheira que faço em casa. Muito boa a história!

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