8. Sarah, a baladeira


Me lembro como se fosse hoje do meu primeiro dia de intercambista na Califórnia. Eu estava sozinha num quarto para dois, esperando a minha roommate chegar de sei lá onde e, ao mesmo tempo, tentando dormir. Mas a ansiedade por “mais” era tanta, que eu não consegui. E foi assim, de repente, que ouvi uma batida na porta e uma voz alta falando: “Sua roommate está aqui”

A voz vinha da minha host mom, Terri, e a roommate era uma dinamarquesa. Branca, de olhos verdes, meio gordinha, falante e sedenta por… alguém que finalmente falasse inglês. Trine estava lá há 3 meses e ninguém que passou pela casa conseguia se comunicar. Assim que ela entrou no quarto, eu sorri e disse um amigável “Hi, you seem tired”. E foi aí que começou o dia mais intenso da minha vida.

Naquela mesma noite, ficamos acordadas até às 4 da manhã, rindo juntas, contando uma pra outra sobre suas vidas em seus países e discutindo afinidades. Foi assim, pifti-pafti.

A química com a minha host mom e com o meu host dad também foi instantânea. Conversamos muito, trocamos informações sobre as duas culturas, saímos juntos para jantar e eu me senti parte de uma família americana. Ela era professora. Ele, além de professor, era escritor de livros. Aquela era a casa ideal pra mim.

Semanas se passaram e, no meio da balada, aconteceu de novo. Esse clique instantâneo. Essa vontade de falar e falar e falar e falar. O nome dela, dessa vez, era Sarah. Eu estava no fumódromo e ela na fila do banheiro. Sarah começou a conversar com as minhas roommates que, cinco minutos depois, me apresentaram. Entramos então em mais uma daquelas conversas intermináveis.

A Sarah era americana e tinha 21 anos. Era baixinha, falante, nova iorquina e vestia a saia de cintura alta mais foda do planeta. Foi para Santa Barbara, onde eu morava, no começo do semestre para estudar na UCSB (University of Califórnia Santa Barbara). Não tinha muitos amigos por lá ainda porque havia acabado de chegar. E ela não era mal informada, como boa parte dos americanos. Pelo contrário… ela sabia tudo do Brasil e era alucinada para vir pra cá um dia.

A única coisa que nos fez conversar, acredito, foram as garrafas de cerveja que tomamos. Estávamos bêbadas, não vou negar. A Sarah me deu o email dela e pediu pra eu escrever. E pra se despedir, ela me disse que tinha um tio que é dono de uma casa em Malibu e faria uma festa incrível durante a semana do Spring Break (férias de uma semana para dar as boas-vindas a Primavera americana). Ela, sem nem me conhecer direito, me convidou para passar quantos dias eu quisesse lá. Eu, como boa brasileira que desconfia de tudo, ri e deixei pra lá.

Mas não é que ela realmente tinha um tio que tem uma casa enorme em Malibu? E não é que ela ia mesmo dar uma festa? E o convite era real, como constatei pelo Facebook dias depois. E eu me assusto com essa instantaneidade. Me assusto quando o convite é sincero. Me assusto porque vim de uma terra em que passar pessoas pra trás é super natural.

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