Sentada sozinha num sofá para quatro na praça de alimentação do shopping, observava uma morena baixinha, de cabelo bem crespo e de óculos com lentes poderosas, cuidar de quatro criancinhas japonesas superespertas. Essas do tipo Maisa, aquela do ‘SBT’.

Caixinhas de Mc Lanches Feliz se espalhavam por três mesas que o grupo ocupava e os pequenos pestinhas não deixavam a babá em paz por um segundo. ‘Cadê meu boneco, tia?’, ‘Que horas são, tia?’, ‘E agora que minha batatinha acabou, tia?’, perguntavam, todos ao mesmo tempo. A babá tinha tudo para estar estressada, mas ao invés disso, sorria com sinceridade e sempre fazia alguma brincadeirinha.

Não demorou muito tempo para a mãe de uma das garotinhas chegar. Loira, alta e vestindo tons bebê, avisou a criançada que os ingressos para ‘Detona Ralph’ já estavam comprados. O coro de ‘uhul’ foi imediato. A felicidade era tanta, mas tanta, que duas crianças,  um garotinho e uma garotinha, se penduraram no ombro da babá. A menina começou a brincar com o cabelo da negra devagarzinho, mas o menino foi um pouco menos delicado: pegou uma mecha da franja da moça e colocou pra cima. Deixou toda arrepiada. O cabelo crespo obviamente não caiu.

Foi nessa hora que o garotinho gritou algo que deixou toda a praça de alimentação com um sorrisão no rosto:

– Você é punk, tia! Você é punk!

Todas as criancinhas japonesas riram e começaram um coro de ‘punk, punk!’. Eu ria baixinho, mas a cena toda se transformou em algo tão adorável que me peguei gargalhando, assim como muitos outros que observavam aquilo. A babá também dava risada sem parar. Aquela risada sincera mais uma vez.

Depois de parar com a gritaria, o garotinho que começou a brincadeira murchou. Olhou bem nos olhos da ‘tia’ e disse: ‘O meu cabelo não fica assim. Queria que o meu fosse assim, tia’. Foi o ‘own’ mais apaixonado que eu já soltei na minha vida.