O calor insuportável de São Paulo não me deixou muita opção no domingo. Depois de um final de semana abafado na casa dos meus pais, escolhi um look mínimo para voltar para o meu apê. De short jeans bem curtinho, camiseta gola V amarela e sapatilha confortável, entrei pela portaria do meu prédio dando meu habitual ‘bom dia’ ao seu Arlindo. Com a mochila pesada nas costas, me encaminhei devargazinho, checando mensagens no celular, até o elevador. Foi lá que dei de cara com a Dona ‘daria tudo para voltar a ser jovem’.
De calça cinza e cardigã cheio de detalhes vermelhinhos, a velhinha de cerca de 80 anos segurou a porta pra mim e perguntou, com a voz bastante fraca, mas de forma simpática: ‘Você vai subir também, minha querida?’ Olhei para os olhinhos puxadinhos da senhora, sorri de leve e disse que sim. Apertei meu número 5 e perguntei a ela em qual andar ela morava. ‘É no décimo primeiro, linda!’, respondeu. Um só elogio me deixou sem graça, mas ela continuou:
– Você é muito linda mesmo. Olha o corpinho! Aliás, toda vez que pego elevador no prédio só vejo beleza. Esse é mesmo um condomínio de jovens muito bonitos. Vocês têm essa luz, esse sorriso que a gente já não tem. Encantam tanto! Olha, vou te contar…
Interrompi a vovó do 11º para fazer uma brincadeirinha:
– Nós só não somos muito lindos quando resolvemos dar nossas festas aqui, né? É a maior bagunça!
A Dona ‘daria tudo para voltar a ser jovem’ começou a rir alto e contou:
– Mas não tem problema! A gente nem escuta mais não.
A porta do elevador abriu no meu andar e desci, desejando bom dia e dizendo que nos víamos em breve. Mas a vontade mesmo era de, sei lá, convidar a Dona ‘daria tudo para voltar a ser jovem’ para conversar mais, perguntar-lhe sobre a sua vida. ‘Era saideira na adolescência?’, ‘Casou jovem?’, ‘Namorou muito?’ Não consegui colocar em palavras um convite decente. Nunca chamei ninguém bem mais velho para fazer nada, então só pensei no ‘quer tomar uma cerveja lá no apê 51?’ que sempre falo para os amigos mais íntimos. Entrei em casa pensando em como seria essa reunião entre nós duas… Pensei, pensei e já sei!
Pode ficar tranquila, Dona ‘daria tudo para ser jovem de novo’! Já estou aprendendo a fazer um bolinho de cenoura delicioso e já separei os sachês de chá mate natural. Quem sabe eu não compro um jogo de xícaras novo para recebê-la no apê 51? Já separei as fotos mais legais dos meus últimos anos também. Quero contar-lhe tudo. Nem que seja para você sentir um pouquinho só de juventude mais uma vez. Nem que seja para você sorrir grande cada vez que encontrar um jovem no elevador…
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~Leitora Nova~
Nossa,já li todas as postagens até agora,e estou apaixonada pela maneira que você escreve,é lindo e passa uma emoção maravilhosa,estou ansiosa para ler as próximas histórias!!!Bjs xx
Que post mais lindo! Me emocionei com essa história. As vezes fico pensando como será quando eu tiver essa idade aiaiaiaiaii rsrs
Que lindo esse texto!! Devorei os textos do seu blog em uma só sentada!
Você escreve de uma forma super gostosa para se ler, Aline. Há textos seu, que eu leio e vai surgindo um sorriso no rosto e uma felicidade que vem de dentro! Isso é uma delícia!
Não pare de escrever, Aline. Para o nosso próprio bem! (:
Awn que lindo, fiquei até imaginando vocês conversando e comendo bolo com chá *–*
=)
Vc marcou com ela? Cooonta ahaha
Oi Alice adoro o seu blog, seus posts são completamente cativantes, e agora eu inventei de ler assim, de trás para frente! Tudo “culpa” de uma amiga que me recomendou. Vou te contar viu, toda vez que eu saio e falo com um desconhecido, fico pensando em como o mundo é grande e as pessoas são diferentes! E esses pensamentos só começaram a vir depois de conhecer o 1001 pessoas