39. Kellan, o único bebê que eu quis pra mim


Passei a minha infância e adolescência inteiras sendo a queridinha das crianças. Aos 10 anos de idade, ganhei a minha primeira prima mais nova, a Camila, e me senti totalmente realizada. Passei pelo menos 6 dos anos seguintes sendo a melhor amiga dela: líamos meus boxes de contos de fadas quase todo dia, montávamos a minha enorme casa da Barbie semana sim, semana não, brincávamos de Garotas Superpoderosas e toda vez que eu ia embora, ela colocava as mãozinhas no cabelo loirinho, fazia bico e caía no berreiro. Deve ser por causa desses anos de boas lembranças que não consigo me recordar exatamente quando deixei de ver graça em crianças, mas simplesmente aconteceu. Até semana passada, quando conheci o pequeno Kellan, continuava com a ideia fixa de que não, ter filhos não era pra mim.

Viajava com algumas amigas pela Califórnia e decidimos ir para Anaheim, uma cidade há 1 hora de carro de Los Angeles com aproximadamente 400 mil habitantes e que tem a Disneylândia como seu principal atrativo. Nos hospedamos num hotel bem simples (e com um estacionamento gigante) na Katella Avenue, uma das maiores avenidas de lá, e combinamos que o dia seguinte seria especialmente para visitar o parque.  Eu tinha motivos para estar mais do que animada: aquela era a minha segunda vez na Disneylândia e, naquela ocasião, eu tinha dinheiro para levar quantas lembrancinhas eu quisesse para casa, coisa que não foi possível quando era intercambista em Santa Barbara.

Na manhã daquela quinta, vesti minha roupa mais confortável, tomei café no meu lugar favorito para cafés da manhã nos Estados Unidos (alô, IHOP!) e entrei no parque. Fui em alguns brinquedos (já falei que amo chapéu mexicano?), voltei a ficar encantada com a quantidade de detalhes no complexo, me entupi de algodão doce e de pipoca… E encontrei o Kellan!

O Kellan estava com a mãe em frente à uma lojinha de souvenirs onde a parada da Disney havia acabado de acontecer. Ele tinha pouco mais de 8 meses e vestia camisetinha amarela e uma calça de moletom cinza com pezinhos de coelhinho. Era loirinho de bochechas rosadinhas, tinha olhos azuis enormes e um sorriso que – juro! – era o mais lindo que eu já tinha visto em um bebê. Quem começou a brincar com ele foi uma amiga, que mexia com todas as crianças que via pela frente. Assim que o Kellan me viu e começou a sorrir maior, com os olhos abertinhos e os bracinhos me chamando, eu soube que aquilo me mudaria de alguma forma. Fiquei sem reação por alguns segundos, mas logo comecei a sorrir de volta e chamá-lo.

‘Posso segurar?’, perguntei, meio tímida, para a mãe do bebê. Há anos não pegava uma criança no colo. Com a resposta afirmativa dela, estendi os braços para o Kellan, que veio para o meu colo rindo, tocando no meu rosto e segurando meu cabelo.

Prestei atenção em pouca coisa ao meu redor nos 3 ou 4 minutos seguintes. Só conseguia mesmo rir de volta para o bebezinho. Não sei de onde tirei força, mas o levantei no alto e ele sorriu grande de novo, com aqueles olhinhos brilhando. Eu não tinha um espelho naquele momento, mas podia garantir que meus olhos brilhavam tanto quanto os dele.

– ‘Acho que o Kellan já escolheu sua nova babá’ , disse a mãe aos risos.

Sorri, dei um beijinho no Kellan e o entreguei de volta para a mãe. Dei tchau para os dois desejando que, um dia, o meu bebê olhe pra mim do jeito que o Kellan olhou.

10 thoughts on “39. Kellan, o único bebê que eu quis pra mim

  1. Eu sei bem, me apaixonei por um garotinho esses dias, era a coisa mais linda que já vi. Já tinha me apegado e amado, nem preciso dizer que morri de chorar quando precisei me despedir, né? <3

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