40. Daniel, o tipo de cara que eu não pego


Faltavam só 20 minutos para os meus amigos chegarem em casa e eu já havia inventado pelo menos um trilhão de desculpas para não ter que sair do meu quarto naquela sexta-feira à noite. Sempre morei longe dos rolês que a galera frequentava e, na maioria das vezes, preferia ‘evitar a fadiga’ a demorar 2 horas para chegar até o lugar escolhido. Mudei para o ladinho da farra já faz um ano e meio e, mesmo assim, não me acostumei: sou o tipo de pessoa que tem que fazer as coisas por impulso. Não pergunte se eu tenho certeza. Se você me der dois minutinhos pra pensar, pronto!, já desisti. Mas aquela era uma ocasião diferente, já que comemoraríamos o aniversário de um amigo. Abri as cervejas que sobraram da última festa no apê 51, bebi minhas smirnoff ice geladinhas e parei de mimimi. Eu sairia. Era mancada prometer e não ir.

Apesar de mulher ser VIP até meia noite na balada, a fila não estava tão cheia assim minutos antes de a tal promoção acabar. No grupinho a minha frente, tinham 4 garotas, acompanhadas de mais 3 meninos. Desses mais novos, sabe? Desses que ainda vêem graça em sentar em frente ao Center 3 e encher a cara nas madrugas dos finais de semana. Já fiz isso também. Acabei conhecendo um deles, o Daniel, na pista de dança, após duas ou três cervejas e um set exagerado de Passion Pit.

O garoto, que tinha 22 anos, vestia calça jeans escura e uma regata preta mais apertada do que o permitido pelo ‘Código Aline de Homens de Regata’. Dançava bonitinho até e ria com os amigos. Veio colando pra perto de mim aos poucos e perguntou se eu estava acompanhada.

– ‘Estou com uns amigos’, eu disse, sem parar de dançar.

– ‘Legal, mas onde eles estão?’, ele perguntou, provavelmente achando que eu mentia. Tolinho.

– ‘São esses aqui do meu lado’, respondi, apontando. Já comecei a bodear do cara. Era tão óbvio que os rapazes do meu lado eram os meus amigos. Quem mais no mundo colocaria a mão no bolso de um cara no meio da balada sem conhecê-lo?

Depois de me contar que estava na festa com os amigos do cursinho – que ele fazia há dois anos para entrar numa faculdade pública de Direito – e dizer que trabalhava num escritório de contabilidade na Paulista, o assunto do Daniel acabou. Ele então foi chegando mais perto e mais e mais. Colocou uma mão na minha cintura, outra no meu rosto e deve ter pensado: ‘pronto, levei a mina’. Eu o interrompi.

– ‘Cara, eu tô de boa’, disse, empurrando-o de levinho, tentando não ser grossa demais.

– ‘Como assim?’, ele perguntou, rindo como se eu fosse a retardada da história.

– ‘Vim aqui só pra dançar e me divertir mesmo. O que rolar, rolou. Não vou forçar situação nenhuma contigo’, respondi, ainda calma e com a voz que sempre faço quando quero que o cara me enxergue como uma ‘brother’ ao invés de como uma ‘mina que quero pegar’.

– ‘Mas tá rolando aqui, não tá?’, ele insistiu.

Eu sorri debochado, sem disfarçar o quanto a presença dele já me irritava. Disse que ia pegar um drink, o que é sinônimo de ‘esquece, não vai rolar’. O Daniel me observou caminhando para o bar com cara de chateação e, quando voltei, não parou de me encarar. Grudei num amigo, que fez papel de muralha, e só consegui pensar em como os homens não entendem a diferença entre ‘vou pegar um drink’ e ‘vem pegar um drink comigo’. Minha vontade era de cantar um ‘é só isso, não tem mais jeito, acabou, boa sorte’ para o rapazinho da regata preta.

A noite continuava, agora com repeats infinitos de MGMT. Eu dançava, já na minha sexta ou sétima Heineken. Tocava ‘Eletric Feel’ quando olhei pro lado e vi o Daniel. Desviei o olhar, mas logo depois senti um cutucão. Não era ele, mas sim um amigo, que me perguntou se eu ia ou não ficar com o Daniel. Quem pede pro amigo me perguntar se eu quero ficar com ele?  Dei um abraço bem forte no amigo do cara, disse que não e fiquei horas rezando para que, a partir daquele dia, só colocassem ‘novinhos’ como o João no meu caminho.

9 thoughts on “40. Daniel, o tipo de cara que eu não pego

  1. Seus textos são tão incríveis… E sabe, dá vontade de conhecer todas essas pessoas!
    Leio sempre!

    Bjos

  2. Ai Aline, só de o cara ir de regata pra balada e ter 22 e estar no cursinho era óbvio que ele era mais do que inconveniente hahahahahaha E pra não deixar de comentar, amo seu blog!

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