57. Brian, o dono da maior cervejada da cidade


Já passava da meia-noite quando a Ashley, minha roommate coreana, levou um cutucão de um cara e, toda feliz, virou para abraçá-lo no meio de uma das avenidas mais movimentadas de Isla Vista, uma cidade universitária há poucos minutos de Santa Barbara, onde morávamos na Califórnia. Naquela noite, muita coisa já tinha acontecido: eu já tinha virado alguns shots de tequila na festa de despedida da Nancy, amiga da Reiko que estava indo morar na Irlanda, já tinha passado mal de rir com o rapaz que ofereceu drogas para a Luisa em troca de uns goles do Redbull dela (drogas são mais caras do que um Redbull, sabe?) e até tinha visto meus amigos entrarem numa geladeira abandonada em uma viela mal-iluminada. Conhecer alguém novo era, realmente, só mais um detalhe.

O nome dele, do moço que apareceu do nada, era Brian. Ele usava uma dessas calças cáqui, combinada com um tênis de skatista e uma blusa preta com capuz. Tinha a pele bem branca – e cheia de sardinhas – e os olhos cor-de-mar. O Brian era americano, descendente de franceses e tinha acabado de completar 21 anos. A maneira como a Ashley o tratava me deixava desconfiada. Ela, que era bastante fria nas relações interpessoais, comemorou demais quando o encontrou. Parecia que tinha acabado de ganhar um reality show, é sério…

– “Aline, vem cá! Ai! Você precisa conhecer! Esse é o Brian. Ele estuda no Santa Barbara City College comigo”, ela disse, com o sotaque ainda carregado, mesmo após morar no país por 1 ano e meio.

Sorrindo de lado, o Brian balançou a cabeça para confirmar.

– “Oi, gente”, ele disse, ainda tímido, pra mim e para as outras pessoas do grupo.

O rosto do Brian me parecia conhecido. Eu poderia jurar que ele tinha um Q daquele ator Scott Speedman, que fez o Ben no seriado “Felicity”, mas deixei esse detalhe de lado na hora. É que eu mal conseguia me concentrar. A música na rua era alta. As pessoas iam e vinham, mas pareciam todas sem um destino definido. Todas estavam alegres demais. Bebendo, dançando, gritando, rindo. Eu, que já havia me perdido em algum buraco negro da embriaguez, só voltei a me concentrar de novo no Brian quando ele sugeriu:

– “O que vocês vão fazer agora? Vamos beber uma cerveja lá em casa. Acho que sobrou”, disse.

Eu realmente achava que já era hora de ‘ficar só numa cerveja’ jogada num sofá mesmo e, quando a Ashley topou ir para a casa do Brian, eu só a segui.

Brian morava numa casinha praiana no fim daquela mesma rua. Nem chave ele pegou quando chegamos no local. Só girou a maçaneta e foi entrando. Foi só nessa hora que eu consegui acordar de verdade. É que a sala – ah, a sala! – mais parecia cenário de filme de destruição. Manchas de caneta nas paredes, cadeiras caídas pra lá e pra cá e milhares de latas de cervejas vazias e de copos de plástico vermelhos espalhados pelo chão.

– “Rolou uma festinha aqui”, contou ele, rindo. “Fiquem à vontade”.

Entendi o “fiquem à vontade” como “nos deixem à vontade”. Fui explorar a casa com mais dois amigos. Entrei num quarto e encontrei um cara bem bêbado deitado na cama. Ele até tentou falar, mas não conseguiu. No outro quarto, tinham pelo menos 4 camas diferentes, todas bagunçadas. Nas montanhas de cobertores, mal dava para ver se tinha alguém.

Não, não tinha mais cerveja na casa do Brian. E o clima era de “vamos sobrar aqui”. Resolvi interromper a conversa animada da Ashley para dizer que iria sair pela cidade pra comer. Ela até foi na pizzaria comigo e com o pessoal, mas logo deu um jeito de escapar pra algum lugar com o tal Brian, que eu assumi ser o organizador do maior beerpong da cidade. Depois de dar tchau para ela, sentei para fazer o pedido. Foi quando chegou um rapaz moderninho e divertido e sentou do meu lado.

– “Sabia que eu te conheço? Já te vi várias vezes na Sharkeez (festa da cidade)”, ele disse.

Não lembro do resto da conversa. Só sei que o Simo El, da pizzaria, me adicionou no Facebook no dia seguinte. E que a Ashley teve uma noite bem legal com o tal do Brian.

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