62. O cara dos drinks de graça no meu bar favorito


Era mais uma quinta-feira e, como comemorar a véspera da véspera do fim de semana já havia virado rotina para uma amiga e eu, lá estávamos nós de novo, no nosso bar favorito no coração da Paulista. Nem 15 minutos se passavam desde que nos acomodamos numa mesa com visão geral da casa quando um dos garçons veio, todo sem graça, com um recado:

– “Moça”, ele começou, olhando especificamente para a minha amiga. “Tem um rapaz aqui no bar que quer pagar uma bebida para você. Aceita essa caipirinha aqui da promoção ‘duas pelo preço de uma’?”, ele perguntou.

Minha amiga me olhou com cara de surpresa e pediu seu drink. Eu, que estava prestes a “sobrar no rolê”, resolvi brincar:

“Como assim só para ela? Ele não vai pagar pra mim também?”, perguntei, rindo. Ainda mais sem graça, o garçom acenou que sim com a cabeça. Apesar da ~oportunidade~ de beber de graça, eu logo deixei claro que aquilo era só uma brincadeira e que eu preferia mesmo continuar na minha Norteña geladinha.

A caipirinha da minha amiga chegou rápido e a curiosidade dela mais ainda. “Quem será que pagou a bebida?”, ela me perguntava. Eu olhava ao redor tentando achar alguém interessante.

“Tomara que seja aquele gatinho ali”, eu disse, mostrando uma mesa de jovens rapazes com suas camisas sociais proavelmente passadas por suas mamães prendadas.

Minha amiga queria porque queria perguntar quem era o rapaz generoso da caipirinha de graça e eu repetia sem parar a minha filosofia de vida.

“Olha, têm algumas histórias que precisam ser deixadas do jeito que elas estão. Já não é legal ter alguém pagando bebidas? Melhor deixar essa história do jeito que está do que descobrir quem é o cara, ver que ele é um puta escroto e “estragar” toda a história”, eu disse.

Enquanto continuávamos conversando, lembrei da última vez que deixei um cara me pagar uma bebida. Era uma das minhas várias despedidas de Santa Barbara, na Califórnia, e eu bebia alguns-vários drinks azuis na Sharkeez, a minha balada favorita na cidade. Eu estava com alguns amigos e com o Markus, que nos dias seguintes ao meu voo para o Brasil, também deixaria a “riviera americana” e faria uma roadtrip pela famosa Route 66 antes de voltar para a Suíça. De mãos dadas com o moço da camisa verde mais horrorosa do mundo, fui até o balcão da festa para deixar um dos meus copos vazios. Foi aí que conheci o Tyler.

Tyler era alto, moreno, bem arrumado e bem bonito, por sinal. Ele me disse “oi” e só depois é que viu o Markus.

– “Que morena linda! De onde você é? Eu queria te pagar um drink, você aceita?”, perguntou o rapaz.

Fiquei surpresa com a abordagem dele e comecei a gaguejar na hora de responder:

– “É que.. que… eu… é que eu…”

Quando o rapaz viu o Markus, pouco se intimidou. Fiquei de cara com o comportamento. Como assim não se intimidar com o Markus? O meu Markus tinha quase 1,80m, um corpo que qualquer rapaz naquela idade gostaria de ter, os fios loiros mais brilhantes e os olhos cor de mar mais apaixonantes… COMO ASSIM NÃO SE ENCANTAR POR ELE? O Tyler deu um tapa no peito do Markus e continuou a nos surpreender.

– “Não se preocupe, bro! Você tem o rostinho bonito para oferecer para ela e eu tenho o cartão de crédito. A garota é sua”, ele disse.

Não tive outra reação a não ser agradecer pelo rapaz querer me pagar um drink e sair andando rindo sem parar do Markus, que ficou imitando o moreno alto pelas 3 horas seguintes.

Enquanto toda essa história se passava na minha cabeça, minha amiga curiosa se decidiu. “Garçom”, ela chamou. E eu já sabia o que estava por vir. A resposta que ela procurava não veio. “O rapaz quer manter o anonimato”, disse ele, e saiu rindo.

– “Tá vendo? Agora eu tenho certeza absoluta que isso é uma cilada! Deve ser algum velhote que curte menininhas!”, reforcei.

Minha Norteña se esvaziava e os drinks da minha amiga acabavam rápido até que, uns 30 minutos depois, o garçom veio rindo na mesa e apontou para o balcão, onde um cara mais velho, gordinho e vestindo um moletom maltratado estava.

– “Ó, moça! É aquele cara ali quem pagou a bebida”, ele afirmou.

Eu não vi o rosto do cara, mas caí na gargalhada no meio do bar com a minha amiga. O homem quem pagou a bebida obviamente não era um Chris Pine, ou um Adam Levine, ou um Robert Pattinson (<3) da vida. Não, aquilo não era uma dessas comédias românticas que a gente vê no cinema e fica torcendo pra (quem sabe?) ser a nossa realidade.

Outro dia, estávamos no mesmo bar e o mesmo cara reapareceu. Viu minha garrafa de cerveja na mesa do bar, chegou no garçom e falou:

– “Quero pagar essa bebida dela”

Fiquei quieta ao ver os dois conversando. Pode me pagar o que quiser, só não exija que eu retribua de nenhuma maneira. Antes de ir embora, o cara, mais velho e com sotaque espanhol, foi gentil:

– “Vocês são lindas! Voltem sempre! Tchau!”

A bebida da minha amiga, naquele primeiro dia, não veio na conta final do bar. Quando eu peguei a conta da última vez, minha Norteña estava lá…

One thought on “62. O cara dos drinks de graça no meu bar favorito

  1. Haha, pelo menos alguém te pagou uma bebida, algo que NUNCA aconteceu comigo! Sobretudo porque não saio com frequência à noite (minha cidade não tem vida social noturna). Mas que engraçado mesmo, só acontece nos filmes e, quando é a vida real, é uma trollagem, sem dúvida!
    Abraços.

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