72. O cara do saco de gelo nas costas na Lapa

Pronto, já falei com o cambista. Bon Jovi tá barato demais, cara. Acabei a matéria, podemos ir jantar. Ah! A gente podia ir comer em Ipanema hoje. Vamos. Olha, essa cervejaria é muito boa, tem pizza. Ok, vamos entrar. (Come pizza, toma uma cerveja, e mais uma, e mais uma, e mais uma). Galera, nós vamos pra casa. Mas já? É cedo! Vamos ficar aqui então. Beleza. Tchau. Tchau. (Mais uma cerveja). Vamos naquele outro bar ali? Vamos.

O preço mínimo de consumo é 25 reais, moça. Ok, me vê 25 reais de cerveja então. (Cerveja, cerveja, cerveja, borrão começando, beijo na boca, conversa boa, cerveja, tontura louca). Vamos num karaokê? Vamos. Onde tem um? Não sei, vou colocar no celular. Aqui ó, 5 minutos daqui. (Pega o táxi e segue caminho mostrado no iPhone). Não, gente. Aqui não é um karaokê, não. É um hostel. Ok, vamos pra onde então? Vamos pra Lapa? Eita, vamos. (Pega o táxi rumo a Lapa).

Música alta, ruas sujas, tribos mil. E lá estava eu, já andando olhando para baixo – o que, no meu mundo, configura que não, eu não estou muito bem. Era noite de calor na bagunça da Lapa e apesar das várias cervejas, eu queria outra e mais outra e mais outra. Mal pensei em outra garrafa de Heineken e lá estava ela nas minhas mãos. (Tontura. Borrão. Mãos dadas. Amigos de alguém. Do nada. Borrão, borrão, não lembro, não lembro). E lá estava ele, o Daniel (ou Felipe ou Lucas – esses nomes não saem da minha vida, puta que me pariu).

O Daniel (Ou Felipe ou Lucas, foda-se) vestia calça e camisa largas e me lembrava a minha ex-paixão platônica que amava basquete e que se vestia igual a um jogador de NBA. Estava com os olhos vermelhos demais, mas nos seguiu até um bar com um saco enorme de gelo nas costas. Não era amigo de ninguém, só achou que podia ser nosso amigo. (Borrão. Beijo. Borrão. Abraço. Borrão). E o Daniel sentou do meu lado, ainda com o saco de gelo nas costas. Tinha 23 anos e era programador do Gloob. Trabalharia no dia seguinte. As costas estavam molhadas, afinal, gelo derrete.

Vamos embora? Vamos, já tô meio mal. Então vamos. (Pega táxi). Motorista, pro Recreio, por favor. Ele tá passando mal? E se ele vomitar? Não, não tá, motorista. Ei, podemos parar no posto pra tirar dinheiro? Sim. (Para no posto). Já pegou a grana? Já. Então vamos? É que eu roubei esse croissant de peixe. Mas você não vai pagar? Não. Vamos embora logo então. Agora sim. Pro Recreio, motorista.

(Chega no recreio, sobe para o quarto, dorme). Foi um prazer voltar a Lapa. Desculpa não lembrar (tanto) de você, Daniel. Ou Felipe ou Lucas.

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