A Reiko sempre foi uma das minhas favoritas. Numa casa com 5 meninas com personalidades bem diferentes, era dela que eu mais gostava. Tinha o cabelo pretinho, perfeitamente penteado, as unhas sempre limpas, como as de alguém que acabara de tomar banho, e usava as calças boyfriend mais bonitas que eu já tinha visto. Falava pouco, mas toda vez que abria a boca, soltava as palavras alto demais, o que fazia com que o nosso host-dad, o Steve, usasse do bom humor para critica-la. “Pelo amor de Deus! Você é escandalosa demais, Reiko”, ele dizia, com a voz baixinha quase desaparecendo. A verdade é que toda vez que nos reuníamos, a risada dela ecoava pela casa toda. Conservadora do jeito que era, chorava de rir com as nossas histórias malucas de Isla Vista, uma cidade universitária com festas de segunda a segunda. ‘Vocês são doidas’, repetia o tempo todo.
Reiko era de Hiroshima e, apesar de já estar há mais de um ano na Califórnia, continuava vivendo no horário do Japão: apagava as luzes do quarto durante a madrugada, se enfiava com seu Macbook debaixo das cobertas e passava horas conversando com as amigas de lá. Como o dormitório dela era no caminho para o banheiro, toda vez que acordávamos apertadas durante a noite, ficávamos ouvindo ela conversar em japonês até as 4 ou 5 da manhã. Ter a companhia da Reiko durante o dia era quase que impossível. Ela saía para a faculdade às 8h15, chegava em casa às 13h e ia direto dormir. Acordava meio sonâmbula durante a tarde e arrastava as pantufas no chão até a cozinha para beber um copo d’água.
Minha roommate japonesa nunca entrou em detalhes sobre a sua vida pessoal, mas sabíamos que ela tinha perdido os pais bem cedo – a mãe teve câncer. Como a Reiko ainda não tinha 21 anos de idade, tinha a sua herança administrada por um tio. Apesar de nunca nos dizer nada diretamente, ela deixava bem claro que não concordava em ter um tutor. Achava uma merda ter que esperar dos 19 aos 21 para poder acessar seu dinheiro sem dar satisfações.
Outra coisa de que Reiko não falava era dos namorados. O que sabíamos mesmo era que ela nunca tinha beijado na vida. As outras meninas achavam isso quase impossível e viviam dizendo que ela precisava ir pra cima de alguém logo. Eu ria das piadas das outras, mas não dizia nada. Era uma quarta de primavera em Santa Barbara quando a convidei para uma balada com uns brasileiros. Animada, ela vestiu sua legging preta e seu cardigã bege soltinho. Na festa, um dos garotos, o Felipe, fazia o tipo pegador, mas se apaixonou instantaneamente pela declicadeza da Reiko. Apesar das várias gostosas da balada, que rebolavam sem calcinha no pole dance, era ela quem ele queria naquela noite. Felipe perseguiu Reiko pra lá e pra cá e, quando ela já estava no terceiro drink, conseguiu ficar com ela. Ele foi o cara quem tirou o BV da minha japonesa favorita. Apesar de toda a euforia, quando chegamos em casa, ela veio com um papo maluco. ‘Nem pareceu o primeiro beijo. Será que eu já tinha beijado antes?’, ela perguntou, rindo.
Nos meses seguintes, a fofura da Reiko conquistou mais um cara, o Jhonny. Ela trabalhava como voluntária no Santa Barbara Film Festival numa noite de ventania quando ele, que foi acompanhar o evento, a viu, deu um papelzinho com seu telefone e a convidou para sair nos dias seguintes. Reiko começou a namorar o cara, que morava em Montecito, um bairro nobre da cidade, e tinha um puta carrão. Toda vez que o Jhonny passava para buscar Reiko em casa, minha host-mom suspirava: ‘Essa aí sim arrumou o cara certo’. Eu ria e ficava feliz por Reiko. Ela merecia um amor bonito.
Em junho de 2010, voltei para casa. Reiko ficou na Califórnia. Nos falávamos por mensagem o tempo todo, mas a diferença de horários nos atrapalhava. Reencontrei a Reiko neste ano, durante as minhas férias. ‘Vamos sair hoje? Estou aqui!’, eu enviei, pelo Facebook. Ela disse que ia trabalhar, mas que poderia me pegar as 7 da noite no meu hotel. Quando Reiko chegou, foi como se a gente não tivesse passado esses 3 anos longe uma da outra. Rimos das histórias antigas, comemos num restaurante brasileiro, nos afogamos em caipirinhas e ela me prometeu: antes de voltar para o Japão, no ano que vem, vem conhecer o Brasil. Reiko também me ajudou a guardar umas malas pesadas por um tempo, para eu não pagar bagagens extras nos voos domésticos. No último dia na cidade, ela foi até o aeroporto me entregar as bagagens. Por essa e outras coisas que vivi com a Reiko, digo: vocês precisam conhecê-la.
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Ownt super fofa vontade de conhece-lá !! Mas fiquei curiosa, e o Jhonny ? Eles ainda estavam juntos? viveram uma linda história de amor?
Ela merece uma história linda como nos filmes *-*
vc voltou pra Califórnia? sei que é pessoal, mas fiquei curiosa dessas suas viagens, onde você mora, se estuda por lá.. é curioso :P
Hehehe! Morei em 2010 na Califórnia. Voltei esse ano durante as férias pra visitar uma amiga e relembrar bons momentos <3