68. A sósia da Francine

Eu não sei bem o que passava pela minha cabeça quando fiz entrevista para entrar na CAPRICHO, em novembro de 2007. O Phelipe, antigo editor do site da revista e atual dono do Papelpop, precisava com urgência de uma estagiária de web e me bombardeou com perguntas logo de início.

Ele: “Você gosta de moda?”

Eu: “Não”

Ele: “Você gosta de beleza?”

Eu: “Não”

Ele: “E de cinema?”

Eu: “Hmmm, não muito”

Ele: “Então do que você gosta?”

Eu: “Ah, eu gosto de música!”

Só pela conversa acima, você já deve ter percebido duas coisas: 1) que eu era totalmente sem noção e 2) que eu não me animava muito para moda, menos ainda para beleza. Mas não é que eu passei? No ano seguinte, já contratada pela CAPRICHO, lá estava eu, com 19 anos, sendo pela primeira vez “enviada” para cobrir a São Paulo Fashion Week.

Nos 7 dias na Bienal, eu obviamente trabalhei igual uma louca. Foi a primeira vez que pude ter contato diário com o que eu faria dali pra frente: jornalismo de entretenimento. Mas lembro que, naquela semana, não era bem isso que me animava. O que me interessava no evento mesmo era poder, finalmente, rever meus amigos da época do iG, onde estagiei antes de ir trabalhar na Abril.

O Caio era o rei dos layouts no editorial do iG e me fazia rir desesperadamente toda vez que pegávamos o ônibus na 9 de Julho em direção ao Terminal Bandeira ouvindo e dançando Avril Lavigne. Lembro até hoje quando o tal clipe da música “Hey hey you you I don’t like your girlfriend” saiu. No caminho para o ponto, o Caio fazia os passinhos iguais aos do vídeo e tentava me animar a fazer também. Naquela época, porém, eu gostava mesmo é de Panic At The Disco!

A Francine era desse tipo com quem você se identifica instantaneamente. Na verdade, nós começamos juntas no iG. Nos conhecemos na entrevista mesmo.

– “O que vocês mais gostam no iG?”, perguntou a entrevistadora para o grupo de cerca de 15 estagiários que participavam do processo seletivo para entrar na empresa.

Eu e a Francine fomos as únicas que respondemos a mesma coisa: “do cachorrinho”. Parece inacreditável, mas daquela entrevista, só nós duas fomos contratadas. Eu não área de buscas do portal e ela na área de vídeos. Convivemos juntas tanto tempo que era normal que durante aquele São Paulo Fashion Week, onde ela também estaria trabalhando, eu só pensasse em a encontrar.

Era fim de tarde quando recebi uma ligação da Francine e do Caio. Eles estavam em um lounge no andar de cima da Bienal, “de frente para uns quadros, umas artes”, como eles mesmo disseram. Combinei então de encontrá-los por lá mesmo. Quando cheguei no andar de cima, fui correndo abraçar a “Francine”. “Ela” estava de vestido florido, all-star branco e lenço no pescoço. Seu cabelo continuava curtindo e enrolado e, pra mim, ela continuava a mesma.

“Aiii, que saudades, Fran! Quanto tempo eu não te via”, eu disse, abraçando a moça mais forte do que normalmente abraço qualquer pessoa.

Aquele abraço naquela moça em frente aos tais quadros perto do lounge foi, aos poucos, se transformando em um pesadelo. Ainda agarrada na “Francine”, vi de longe a “verdadeira Fran”, com o Caio. Meu mundo havia caído. Eu não conseguia acreditar que existia uma “sósia da Francine” no mesmo lugar que eu estava, bem na hora que combinei de encontrar a “verdadeira Francine”.

Totalmente envergonhada, “desabracei” a sósia da Francine sem olhar na cara dela. Só virei e saí andando em direção a “Francine de verdade”.

Depois de muito rir da história – e de ser zoada pelos meus amigos pelo mico-, fiquei pensando bastante sobre o assunto e agradeci pela “sósia da Francine” ser tão amorosa como a “Francine real”. Eu, provavelmente, intensificaria a humilhação dizendo que a “ursinha carinhosa” dos abraços em estranhos era uma maluca. A “sósia da Francine” só ficou ali, curtindo o abraço e esperando que eu caísse na real.

4 thoughts on “68. A sósia da Francine

  1. Caramba! É fácil assim entrar numa grande revista? Haha, me lembrei de O Diabo Veste Prada, quando a Anne é contratada pena Runway justamente por não ter NADA a ver com a revista.
    Mas é assim que a gente começa, né? Tudo vira um aprendizado enorme mesmo.
    Abraços.

    1. Hahaha, Nina! Passei a minha temporada toda na CAPRICHO me sentindo em ‘O Diabo Veste Prada’ e, assim como no filme, foi tudo uma grande evolução pessoal e profissional: tanto dos meus gostos (foi lá que descobri que queria mesmo seguir jornalismo de entretenimento), como na maneira como as pessoas – e até eu mesmo – me viam.

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